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Mostrando postagens de janeiro, 2019

Como nasce no Brasil colônia a justiça implacável contra os menos favorecidos

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Por Sandro Gomes Nos últimos anos o Brasil tem testemunhado uma presença provavelmente inédita de assuntos ligados ao direito em seu cotidiano. A partir da ideia amplamente disseminada de que a corrupção encerra todos os problemas do país (um mito para alguns), algumas ações voltadas para exercer a justiça, como processos e forças-tarefa, têm ganho relevância entre a população, recheando os noticiários da grande mídia e estando entre os mais assíduos temas em conversas e redes sociais. Essa ascensão do universo jurídico na vida brasileira atual tem também deixado mais evidente uma série de impropriedades e deficiências que nos dão a ideia de que a justiça é pra nós brasileiros algo ainda distante. Um item da vida pública destinado principalmente a servir a uma parte privilegiada da população. E essa ideia se torna bastante compreensível quando fazemos um retorno no tempo e analisamos como o direito se estabelece entre nós, deixando suas raízes até os dias de hoje. A primeira a

O Index do século XXI – Quem seleciona o conhecimento?

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Por Sandro Gomes Em 1559 a Igreja Católica instituiu o “Index Librorum Prohibitorum”, que ficaria conhecido como Index, a lista de obras que as autoridades eclesiásticas consideravam impróprias ou contrárias à fé cristã. O documento teve 32 edições, que foram reeditadas ao longo de quase quatro séculos, com a sua última relação publicada em 1948. Oficialmente perduraria até 1966 e teria entre seus censurados nomes consagrados da arte e do conhecimento, como Descartes, Espinosa e Balzac. Mas mesmo em tempos em que supostamente a liberdade de expressão é reconhecida como um valor universal, tendo como mote mais atual o conhecimento sem peias veiculado pela internet, talvez esteja sendo construído, ainda que de forma sutil, o que poderia ser visto como uma variante do Index ou como um Index do século XXI. Uma edição do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, lançado pela editora Garnier no início do século XX traz ao final um glossário de aproximadamente 50 páginas. Esse apê

A visão nacional sobre o indígena e suas raízes no pós-independência

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Por Sandro Gomes O início do século XX seria marcado por uma importante mudança na relação entre a nação brasileira e seus povos originários. As políticas de aproximação com os indígenas, empreendidas pelo sertanismo da época, vão se sobrepor a um longo período de desvalorização das culturas nativas levado a cabo a partir da segunda metade do século XIX, quando as elites resolvem acalentar a ideia de que o índio é a representação de um Brasil distante dos ideais de “cultura superior” supostamente presentes em outras nações materialmente mais desenvolvidas e que nos servem de espelho. A história da relação entre a cultura ocidental, para cá trazida pelos povoadores ibéricos, e os nativos da terra tem início nas tentativas de “civilizar” o índio a partir do missionarismo religioso, calcado na ideia de catequese cristã e conversão dos naturais em súditos do rei. Enquanto puderam atuar, os jesuítas conseguiram levar adiante alguns empreendimentos de enquadramento do indígena nas ins

Pobreza e riqueza no século XXI, o desafio da humanidade?

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Por Sandro Gomes Se um alienígena chegasse na Terra e visitasse algumas das principais megacidades do planeta, como Nova Iorque, Berlim ou Pequim, teria a impressão de que nossa humanidade se caracteriza pelos grandes avanços materiais, expressos no grande conhecimento e uso dos recursos naturais e no domínio da tecnologia, o que inclusive leva lideranças globais a acalentar projetos relacionados à conquista de outras estâncias do cosmos, como a já alcançada chegada ao satélite natural e o objetivo de fazer a primeira visita a um dos nossos vizinhos do sistema solar. A obra de Samuel Luke (1874), mostrando a miséria na Inglaterra da Revolução Industrial Conjecturas à parte, o fato concreto é que, visto de uma perspectiva global, o panorama da nossa humanidade pode ser visto como relativamente animador, haja vista que nosso conhecimento científico já nos permite acumular um grande conhecimento das nossas principais estâncias naturais, dos seres que habitam o planeta, in

A imprensa e a marginalização de pobres e afrodescendentes

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Por Sandro Gomes A segunda metade do século XIX se depara com importantes mudanças de conceito a respeito de certas questões na sociedade brasileira. As elites econômica e intelectual se veem às voltas com a necessidade de viabilizar um novo projeto de país, o que acontece sob grande influência das ideias liberais propagadas pelas potências hegemônicas de então, principalmente a França e a Inglaterra. Aí se desenvolvem algumas noções que vão se chocar frontalmente com as referências da maior parte da população brasileira, com suas visões de mundo baseadas em elementos culturais oriundos de tradições indígenas ou africanas, entre outras. No cenário dos espaços urbanos no Brasil, onde a presença afrodescendente se faz bem mais evidente que a nativa, esse impasse cultural vai se aplicar à tentativa por parte das “cabeças pensantes” do país de relegar a plano secundário as manifestações culturais daqueles grupos que não expressem a visão influenciada pelo mundo europeu. É nesse conte